Melhorar gestão exige priorizar a visão de fluxos de valor

Por Flávio Picchi
Senior Advisor e Conselheiro do Lean Institute Brasil (LIB) e Prof. Dr. da Unicamp

A gestão lean enfatiza a visão além de processos isolados, buscando sempre compreender cada empresa como um conjunto de fluxos que passam por diversas áreas, para entregar valor aos clientes no final

As pessoas nos seus locais de trabalho têm, em geral, uma visão parcial dos processos nas empresas. Elas conseguem enxergar apenas, quando muito, as atividades mais próximas, realizadas em suas áreas. Ou seja, no geral, têm uma visão limitada e pontual do que ocorre como um todo na organização. Isso acontece até com alguns gestores que não conseguem enxergar além dos seus silos organizacionais.

Para mudar isso, o sistema lean traz um conceito e uma prática que consegue estender esse olhar. É que a gestão lean enfatiza a visão além de processos isolados, buscando sempre compreender cada empresa como um conjunto de fluxos que passam por diversas áreas, para entregar valor aos clientes no final.

Por exemplo, se estamos falando de um processo de compras, não devemos observar somente o que é feito no departamento de Compras, propriamente dito, mas, sim, no fluxo todo que envolve esse processo. Desde o pedido, passando pela seleção, contratação, logística, recebimento e armazenamento, pagamento, etc.

Noutro exemplo, se estamos falando da fabricação de um produto, não devemos olhar somente para a máquina que o produz, mas para todo o processo produtivo envolvido. Desde a matéria-prima, todo o processamento, em diversas etapas, a expedição e até a entrega ao cliente. Assim como todo o fluxo de informação, que define o que e quando será produzido.

Para a filosofia lean, um fluxo de valor representa todas as atividades, do começo ao fim, que agreguem ou não valor para a realização de alguma atividade.

A ideia de entender o fluxo completo pode ser aplicada no âmbito de uma empresa toda, envolvendo diversos departamentos (como nos exemplos acima), ou de maneira mais ampla ainda, passando por diversas companhias na cadeia de fornecimento, analisando a experiência completa do cliente, desde o pedido até o recebimento.

A definição de que o fluxo de valor inclui todas as atividades, que agregam ou não valor, está relacionada com a forma como esse conceito é usado nas implementações lean. Isso é sempre uma atividade coletiva que reúne pessoas envolvidas nas atividades do começo ao fim do fluxo analisado. O primeiro passo é analisar como as atividades são feitas, registrando, inclusive, todas as imperfeições – isso é o que chamamos de mapeamento de fluxo de valor, estado atual. Discutindo todos os desperdícios e usando conceitos lean, como fluxo contínuo, o grupo desenha o fluxo de valor, estado futuro.

Isso é completamente diferente de fluxogramas desenhados por times de TI ou de certificações de gestão da qualidade, que, em geral, são feitas por especialistas e partem diretamente para uma sequência pretensamente ideal, mas que, na maioria das vezes, contêm ainda diversos desperdícios, não percebidos por não terem passado por uma discussão incluindo os envolvidos em todos o fluxo.

Em vez de ter apenas o olhar pontual, essa visão mais completa de fluxo de valor muda completamente a interação das pessoas numa empresa. E, consequentemente, os resultados de tudo o que se faz.

Assim, quando colaboradores que atuam no começo de um processo específico percebem as dificuldades que outros colegas têm no final do processo e vice-versa, todos começam a entender como seus respectivos trabalhos podem ser feitos de uma forma que facilite a continuidade e qualidade do fluxo de valor.

Essa visão por fluxos de valor precisa ser aplicada a tudo numa empresa, seja no fluxo produtivo, no fluxo de desenvolvimento de produtos, desenvolvimento de pessoas… e sempre tendo como foco a entrega de valor ao cliente final.

Assim, uma boa forma para se evoluir a gestão de uma companhia é envolver todos, passando do “olhar pontual” para o “olhar de fluxo”, usando sistematicamente o mapeamento de fluxo de valor, desenhando sucessivos estados futuros, visando atingir objetivos definidos pelas necessidades do negócio.

Fonte: Época Negócios

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